domingo, 19 de maio de 2019

Natureza concreta

Entre escadas de asfalto e
incertezas,
há um enorme pulmão
absorvendo as almas
feitas de carbono.
No limite de estrelas
ofuscadas,
falarão dos arredores
escondidos entre edifícios.
Vão dizer que seremos inúteis.
Que estaremos eternizados
num canto qualquer de mundo.
Que iremos crescer,
escorrer,
ou viver
como escadas cimentadas
da mais pura hipocrisia,
cuidadosamente ornamentada
por nós.

(novembro 2006)

Pequena sessão de cinema

Devora-se a tela num antro de imagens.
Gigantesco,
o entrecortar de cenas engole os olhos,
cuidadosamente.
O filme observa a história no que
apenas se contenta ao tempo.
As luzes enfileiram pretensões.
O mundo assiste um grunhido surdo
de um vazio decerto.
No fim da sessão,
o barulho das poltronas
comemoram o levante
dos que se brisam.
Volta-se à realidade.
Uma tela de angústias torna-se atenta
para a amplitude escura e tênue
de destinos.

(abril 2019)

Resenha inquieta


Embora amplo,
serei migalha.
Minhas mãos
confrontam loucuras
e mares.
Em meu conforto
desfolham invernos.
Me visto pedra
Com olhos de medo.
Apenas respiro
o que bem me enxerga.
Não existe mundo
a não ser aroma.
Peço alguma reza
que poderia deter o tempo.
Somente calo
aquela voz modulada
na solidão das
descobertas.

(abril 2019)

Cantares de Guanabara


dedicada a Ilha do Governador  
                                             
Aquela valsa inquieta entre barcos
não é mais a mesma.
O entrecortar aflito das ondas tocam
pedras como sonho.
Não há entre mim e brisa algum segredo
que me torne sol.
Talvez sussurre gaivotas que desenham
um pequeno entardecer.
Confronto a sinceridade das praças
a partir das areias turvas.
Há um ínfimo cântico que mareja
o tempo feito ilusões tímidas.
Quem sabe a saudade,
embevecida de sentidos,
arquitetada por olhares,
esteja brevemente adormecida
nos entornos bucólicos e marejados
daquela ilha.

                                                                     (maio 2019)

Resistir

Minha arte respira
entre tiros de fuzil.
Mãos dadas em liberdade
entre sombras frias.
Bordarei revolução
pela semente da ternura.
Ecoarei meu tempo
assombrando tempestades.
Um céu de chumbo
se contorce em
dias úmidos.
Um grito surdo renasce
em silêncio pelas ruas,
impiedoso.
Lutas brotam por esquinas
e concretos.
Sonhos nascem por resíduos
e rochedos.
Serei inquietude
a partir de meu verso.
Serei resistência
a partir de uma flor.


(maio 2019)

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