terça-feira, 25 de agosto de 2015

Versos bisonhos

Minha excelência imunda está em dia,
alinhada a um caos prenhe de nojo.
Antes esboço, fiz-me hipócrita
pela necessidade de rascunhar uma história
esquecida.
Sou apenas migalha,
resto de um ímpeto hostil
vislumbrando o nada.
Ergue-se um cálice de aflições.
Um grito podre arranha o escuro
duma palavra surda que agride
o vento.
A vida observa inerte.
Toda nobreza inerente a mim
corrompe-se no estômago.
Aquela mesquinhez ávida
de meu vazio apenas sorri.
São espelhos enterrados numa
esperança sórdida
acolhida em pesadelos floridos.

(agosto 2015)



domingo, 21 de junho de 2015

Sombras de domingo

Do que me resta noite a não ser
rascunho.
Teimo a preguiça despertar o
sol seguinte.
Rezo a semana que não me contenta.
Os vultos são muitos.
A rotina enxovalha a cabeceira
de minha cama.
Os rodamoinhos seguintes
serão executados num sopro.
A resenha do dia me consome.
Ignoro meu próprio acaso.
Tenho em mim sonolentos
descasos momentâneos.
Hora de dormir em paz errônea.
A sombra de um domingo requer um
cinza cozido em fogo brando,
sem sobras para um repeteco.

(junho 2015)


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Solstício

O sol não se move.
Há um vento murmurando
a ternura de um sorriso.
Esperançosas flores de outono
colorem as almas brandas.
Os olhos se contradizem.
A paisagem corta o azul rascante
do imaginário.
Ouço um suspiro ao longe.
É apenas o tempo, recusando-se
a passar tão despercebido.
Existe em mim uma pequena vontade
de romper o mar.
A liberdade que apenas a luz acolhedora
do encanto pode oferecer.
O sol continua imóvel.
E com ele o céu,
numa felicidade esquecida,
brinda a essência num só
cortejo.
A certeza de que o dia longo,
inquestionável,
reflete as manhãs de meu breve
desejo de ser horizonte.

(junho 2015)



domingo, 7 de junho de 2015

Trâmite

transcrevo meu esboço como sobra,
cada universo responde por si:
o meu se cala.

suspiro um espelho de mim que não existe,
trafego aflição pelo alheio...
sou uma palavra inquieta.

burlo vertigem como prova cabal
de que o mundo rompe o pálido,
admito-me reverso.

cai um melancólico segredo em retinas,
um pergaminho esdrúxulo se forma
em círculos,
o entardecer harmoniza-se em sombras.

a vida é um trâmite
e eu apenas redemoinho.

(junho 2015)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O poeta burocrático

O poeta saboreia um café em sala inóspita:
a vida caberia num arquivo.
Tal amargo o acolhe seco.
Dentre as profundezas de sua arte,
procura poesia.
O que encontra são ordens de papelada,
ofício afins,
prendas de papel e máquinas
que adornam uma redoma.
O poeta se aflige.
Sabe que rumina em seus ouvidos
a parede de escritório esperando
seu precioso burocrata.
Mares velados,
cinzas extremos,
loucuras vazias...
Nada, nada parece substituir
o bom dia melancólico
da rotina.
O poeta saboreia seu café
na ingrata esperança que ainda
resta,
mas não corteja poesia...
Trocaria aquele café por um chá longo,
incondicional,
daquele verso que anda
desconfortavelmente perdido
pelo marasmo de sua agonia.


(fevereiro 2015)

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Dizem da poesia revolução. Pois ela se encontra à vista daqueles que acreditam na palavra como instrumento de mudança.