quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Luz

A tarde cantava suas mágoas.
E eu ainda te espero...
O vento surdo do meu coração
fatigava pés, a alma,
tudo.
Teus olhos faziam cena em
cortinas imaginárias,
enquanto restos de nuvens encobriam
a lâmina indiscreta do sol.
De repente, lábios cor de pressa
reverenciam o mundo
e teu corpo, reerguido em melodia,
surge na medida em que
um infinito parece se esconder.
Caía a estampa da noite.
Com ela, a penumbra nítida
das mãos se desvelava.
A timidez vazia de nossas vidas
se cala num conflitos de silêncios.
Pouco a pouco,
a lua tornava-se presente
entre carícias e imensidões de pedra.
O tempo corrói o instante.
Eis que surge uma luz
cortando o véu da eternidade
na razão mais simples
de meu vestígio.
E eu ainda te espero...

(dezembro 2010)

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Véspera

Bastaria aquela vírgula:
os segundos responderiam
por seus sonhos.
O tempo rasteja incólume,
inválido,
encarnando olhos pardos
que devorariam restos,
um céu.
Caberia em mim a ansiedade
cruel dos costumes,
assistida em cenas menores
de um filme sem rugas,
desvairado.
Vigora o calor de esperanças
contadas em discretas estações.
Assim, por um detalhe,
os segundos explodem
no rastro de tempo
que me escorre tímido
pelos corredores bastardos
de pequenas almas.

(novembro 2010)

Centésimo

Sou meu herói.
Meu vilão, meu senão
bruto e puro:
fortaleza de cem mares.
Sou vário, infindo.
Sou contorno irrestrito
do escrúpulo que me cerca
sem sombras.
É meu devaneio atípico
que norteia mentes frias,
congelando sonhos,
devorando aflitos e conflitos.
Apodreço assim confuso
no meu tempo incerto,
em momentos de mim
que me reinam absolutos
sem cortes,
sem formas,
nos cem motivos fúteis
para viver,
tão singelamente,
nessa eterna melancolia.

(agosto 2006)

sábado, 23 de outubro de 2010

Serenata morta

Deve ser o cantar do medo
...que me trouxe aqui.
Em teus braços tortos,
...meigos, que tolice!
E pensar que seria você
...a musa polida ao eterno.
Que pudesse sonhar e sonhar
...o cortejo das coisas efêmeras
...e só.
Como se cantassem pássaros por
...fetiches ávidos.
Como se houvesse o mar
...realinhando os acordes
...do tempo.
Sereno desabrochar de pedras
...nessa vontade fértil de morrer
...em mim.
Teus braços sentenciam
...minha ternura insana.
E chamarei teu nome como prova
...de que meus desejos dormentes
...apenas se calam.
Bastando cantar aquela sombra
...mais perfeita que beija as mãos
...frias de meus úmidos lamentos.


(outubro 2010)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Recorte

Deslizam tristes almas
sobre a lágrima amargurada.
Transparece um corpo contido
ao chorar a intensidade do céu.
Flores partem-se em meus dedos.
Vão amanhecer no verso
mais confortável.
Encontrarão pelas sombras do vento
o sereno cansaço do mar.
A vida reflete-se em gotas vis
de contentamentos,
recortando suavemente meu grito
nessa eterna tentativa de reinventar
o segredo de minhas horas perdidas.
Eis que a angústia nos espera,
pacientemente,
na frieza intolerante
das eternidades.
(agosto 2010)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Breve instinto

Vem-me a boca tal vontade de tocar o céu
como voz e fogo moldando ilusões inúteis.
Que encanto há naquela ternura mal resolvida?
O que se diz nas esquinas breves de uma borboleta?
Passam-se-se horas girando mudas de canções.
Passam-se vidas recontando sinos de ninar estrelas.
A noite cruel aproxima-se ao sabor de meus olhos,
seduzindo versos na medida do impossível.
E corre o verbo nas estradas de sincrônicos medos,
pois irão saborear o tempo esmigalhado pelo esboço das flores.
Do calar morno das angústias, brotam segredos lacônicos,
fazendo-me chorar a felicidade mais distante
escondida na minha eterna vontade de tocar o céu.

(setembro 2010)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O concreto

a Rafael Lemos
De palavra
o caos
se move.
Murmura tensa
a língua
consome o verme
cimento
seduzir-se de saber
a vida
calada entranha
teu nome
recobrindo cansaço
orgia
sobrará cantares
de tormento
construir avesso
entre os dedos
rompe-se loucura
vinho
servirá poesia
e basta.
De caos
a palavra
se move.
(setembro 2010)

domingo, 15 de agosto de 2010

A espera

Preparo um filho pródigo
na crença de minha angústia.
Vai dormindo num sol azul
o ancorar de uma espera.
Filho meu, será o temor de
meu ventre,
dedos cegos a procura de
arranha-céus de fogo,
palavra por palavra,
sentido de sua tanta
existência.

Preparo um filho pródigo
nas esquinas dum mar salvo
onde nascerá torto,
belo,
extremo,
para que nos meus dias
restantes e cansados,
eu seja estranhamente
eterno
pelos delírios de minhas
preces noturnas.

(agosto 2010)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Poema à menina do vento

Guardaste teus sonhos em canções de lua
abraçando assim o vento assombrado em
amor.
Terás gravado à pele doce mar
por cristais de flores, desejos calados
de um jardim.
Tu danças brindando estrelas,
balé ausente,
despontar de nuvens.
Semblante adornado por silêncio doce
a beijar teus pés,
devotando singelas vozes que recontam
a noite,
fazendo-te debruçar sobre o delírio
acordado em teus dedos.
Canta, menina...
Canta o vento,
pois que teu universo te restará,
subitamente,
no recolho suave das espumas frágeis
de teu travesseiro.
(junho 2010)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Tempos de semente



"Não sou poeta
mas penso em ser.
Quem sabe um dia
eu olhe para trás
e fale: - Não ficou
só no pensamento."
Rafaela Rodrigues Mota, 11 anos
Planto gerações
na inquietude de um
espelho.
Roseiras em ninho
modelam o verso.
Minhas vastas mãos
colhem o céu,
fazendo do tempo fruto
na ternura-flor
da língua.
Regaremos poetas e brisas
no contentamento das horas.
Palavras se tocam,
mundos se descobrem,
a lira de um grande sol
desabafa em poesia.
Pássaros e juventude
rasgam o amanhecer.
O instante da semente em
tecer a vida é agora.
Brindemos enfim o despertar
de um novo futuro.
(maio 2010)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vasto pobre mundo

Meus amores encontram-se
num asilo perdido de emoções.
Caducam velas nos meios findos
consumidos pelo marasmo
delirante do mundo.
Vasto pobre mundo
vagando fundo sem desejo pronto
sem destino pronto
sem a prontidão do anseio
imenso
disperso
descrente.
Eu anseio a vida.
Eu desejo a sorte.
Eu destino a morte.
Afronto-me em meus amores,
cheios de ingrata pantomina,
as dores imersas num vazio
tão vazio de emoções inúteis.
(julho 2006)

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