terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ímpeto melancólico

Roubam-me tempos,
escrevem-se destinos,
e a vida rompe estrelas
colhendo lágrimas.
Entre vazios, rodeiam canções póstumas
que me bastariam por
um silêncio.
Sou resina e pó,
faço-me insano e obsoleto.
Tenho a mim vestígios que
não me convencem.
Flores entranham na palavra
mais cinzenta,
cortejando a maciez
de meus delírios.
Por fim,
aprecio a solidão pelas esquinas
que me conduzam ao resto:
as cortinas íntimas da criação.


(setembro 2011)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Década

O tempo condiciona a novidade.
Como crianças,
brincamos astros como roseiras
e extravasamos.
A vida nos permite inflarmos,
mornamente,
sobre brisas tolas que renascem
e morrem distantes.
Nossos instintos se ampliam,
novas estradas são desenhadas.
Rotinas medonhas assim desabrocham
entre bocas e esperanças.
A novidade restringe o tempo.
Como adultos,
racionalizamos sonhos em meras
esquinas.
Um ciclo sobrevive por nossas
mãos
e uma fagulha de lembrança
ainda resiste no cruel embate
de décadas adormecidas.



(julho 2011)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Minha cabeça é um problema

Revolta-se meu corpo chacais
num legado gritos a prêmio.
Flores pesadas são embrulhos,
sorrio todos os rostos que
por acaso são meus.
Ideia feito carniça blasfema o mundo:
santo pobre mundo.
Percorro noites como sombra inválida
deusa de lodos.
Trafegam delírios sórdidos
em meus estragos.
Sou prenúncio de olhares impiedosos,
tempo vivo de magras estrelas.
Esmago esperas solfejadas em destinos.
Cobre-se palavras ao insensato.
Degusto loucuras sórdido paladar
torturado por almas resumidas.
Num bocejo clamo por paixões inúteis
refletidas em nada.
Da vetigem cabeça a dentro
salva-se a coerência
de meu inverso.




(julho 2011)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Telemarketing

-Bom dia,
com quem falo, por gentileza?
Vozes em linha escalam
o tom de atendimento.
Pensam gestos e números.
Gastam gargalhadas, intenções.
Redigem o ar num mesmo
ritmo de protocolos.
Informações vagam gargantas secas,
impessoais.
Querem fugir dos segredos mais lúdicos
e não conseguem.
Nem uma letra ou vírgula,
muito menos almas
ou cantigas fáceis
são percebidas no alheio de
sussurros eletrônicos.
A vida escorre entre máquinas
involuntárias,
passos apertados,
mãos inquietas
que explodem em suspiros de vida.
No fim,
abraçam-se diferenças
na mesma oração
de despedida e alívio:
-Agradeço o contato,
tenha uma boa noite.



(junho 2011)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Confissão

" A alma se identifica quando há uma história
de dois corações.
As estrelas renascem, o espetáculo é aplaudido de pé.
A força que nos enlaça é imensa,
ultrapassa o tempo e perdura pela eternidade."

Aldinha Santos






Brindarei amor nosso em confissão
irradiando flor presente por cada dia.
Quero tê-la preciosa a completar-me
Serás brisa rara a aquietar meu coração
incerto
e tomarei assim teus sentidos perfumando
sonhos, desejos íntimos.
Contarei teus passos como canção da alma.
refaço-me rio a banhar-te lábios,
louvarei teus braços acalantando o vento.
Da ausência,
prossigo o som de toda tua forma
acolhida em mim.
Através de teus olhos,
decifro a eternidade que nos resta
bastando-me um gesto.
Amo-te como musa enamorada,
essência de minha pele,
encantamento e contemplação
do que há de perfeito no mundo.
Viveremos sempre dois corpos
numa mesma estrela,
num mesmo tempo,
numa mesma confissão.





(junho 2011)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Entre pedras, areias e poemas

Homenagem aos 70 anos do mestre Ronaldo Lima Lins



Arrancar do verbo a minuscula essência,
construir castelos que reverenciam o tempo,
ver da sabedoria o íntimo das flores
e respirar delírios.
Colher a riqueza do que é mais simples,
tecer brandura no caminhar de pedras
sentir da areia a textura em razão
e saborear o céu.
No tumulto das paixões,
o sábio sorri em mãos grisalhas.
Vai carregando o mundo em tempestades
de sonho e mais além.
Inquieta seu vigor de certezas
em gestos enternecidos.
A cada centímetro de pensar,
a revolução vibra em gotas firmes.
E aquele homem,
por sua arte e juventude,
renasce vinho nos redemoinhos de verso
que consomem seus olhos
embevecidos de
poema e amanhecer.





(junho 2011)

Comboio

Quando se calam as chuvas soturnas,
as mãos vazias enredam o tempo.
Ergue-se então o verso mais seco
rompendo a quietude viva dos jardins.
Cantem assim os ouvidos frios
pois nossas mentiras são de veludo.
Olhares mortos apenas silenciam
e descansam.
A garganta presa em lodo chora,
amarga,
como ninho imerso na clausura
de absurdos.
Sou o cinza que perdura o mofo.
O tempo exato na amargura de meus
sonhos.
Apenas o riso me acompanha tenso.
O sol move-se para dentro de minha lágrima.
E bastaria o mundo feito um grao
para que a angústia em mim
pudesse reiventar o véu
das intensidades.


(junho 2011)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cantiga de namorada

para Aldinha Santos
Quero tua estrela mais íntima
anoitecendo meus olhos.
Desejar o canto frágil da lua
ao acolher sussurros e brisas.
Sonho amor guardado em si
revelando-se rio doce,
desabrochar cantiga serena
em teu beijo de namorada.
Serei grato a eternecer tua pele,
acarinhar os dias com a rotina
dos versos,
sentir o tempo se redescobrir
na calmaria da distância.
Quero teu jardim,
tua lágrima,
tua alegria a desbravar meus sentidos.
Quero te tocar ao eterno,
nascer de novo
no segredo mais inquieto
que procuro no despertar
de teus braços.
(janeiro 2011)

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